Compartilhando lembranças com uma amiga ontem, me lembrei de um episódio entre mim e meu irão caçula, que na época tinha por volta de seis anos.
Fomos a uma Feira de Livros e assistimos a uma contação de histórias e todas as ilustrações do livro apresentado tinham sido feitas de massinha.
Como era véspera do dia dos pais, ao final da contação, as crianças foram convidadas pelo autor a fazer bonecos de massinha.
Passo a passo, ele ia ensinado como montar as partes do corpo: cabeça, olhos, cabelos...
A indicação era para que as partes ficassem o mais parecidas possível com os pais.
Enquanto as crianças se esforçavam na confecção de suas representações, meu irmão me olhava desconcertado, porque ele não sabia representar algo de que ele não se lembrava, algo que ele não conhecia.
No fim das contas, dividimos a massinha e fizemos bonecos um do outro.
Ao relembrar essa experiência, fiquei pensando no quanto é importante que tenhamos referências e que as preservemos.
Lembranças e referências de pessoas queridas, referências sobre os lugares de onde viemos e sobre quem somos, pois acho que são essas e outras referências que nos ajudam a manter as nossas convicções e esperanças a despeito do descrédito com o qual tantas vezes somos tratados.
Elas nos ajudam a elaborar o tão necessário exercício da autocrítica nos nossos grupos, no nosso trabalho, na nossa vida.
A partir do entendimento de que podemos manter nossas convicções, talvez fique mais fácil tentar enxergar nas limitações do outro, as limitações que também carregamos, aceitando que sempre seremos limitados sobre milhares de assuntos e experiências.
Naquele dia, pude enxergar com mais clareza do que em qualquer texto acadêmico, que não podemos representar aquilo que não somos, assim como não podemos defender com veemência aquilo em que de fato não acreditamos.